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Já passou! | Isaías 9:2-7

 Porque toda bota com que anda o guerreiro no tumulto da batalha e toda veste revolvida em sangue serão queimadas, servirão de pasto ao fogo.

Isaías 9:5


 Acabou a guerra! Aliás, acabaram todas as guerras! O profeta até há pouco, no fim do capítulo 8, estava vendo cenas terríveis, uma escuridão profunda se formando sobre o povo de Deus, que se arrastava em sofrimento nas trevas — o panorama era como nuvens sufocando a luz, como noite nublada. Mas agora, no capítulo 9, ele começa a ver um dia nascendo, o despontar de um grande dia em que nasce o sol no céu aberto. Se antes era como se o povo estivesse em trevas e escuridão — de sofrimento e de pecado —, isso já era passado: agora brilhava uma luz radiante e intensa. O povo crescia, prosperava, e mais ainda crescia sua alegria. Agora o profeta via o povo feliz diante de Deus, como quando o fazendeiro faz uma colheita extraordinária, além de toda imaginação; como quando depois da guerra se repartem os achados, e os achados são tantos e tão raros. Estão felizes, mais felizes do que quem colhe e lucra! E essa alegria não é por dinheiro, mas porque a opressão acabou. O povo tinha sofrido tanto, tinha sido dominado, zombado, mas passou. O peso da vida escrava foi tirado — o profeta vê e diz: "tu quebraste o jugo que pesava sobre eles" (9:4). Imagine um animal preso com um jugo — aquela madeira em cima dos ombros — e, de repente, algo acontece e aquele jugo se parte em dois, cada metade cai ao chão e agora ele está livre! Acabou essa opressão, o peso caiu de seus ombros; podem encher os pulmões, respirar aliviados o ar da liberdade — o profeta os vê livres, enfim livres! Acabou! 


 E ele está vendo que não se alegram só porque finalmente foram libertos e aliviados, mas porque acabou mesmo: "toda bota com que anda o guerreiro e toda veste revolvida em sangue serão queimadas" (9:5). A bota que pisou os inimigos na guerra, a roupa que se sujou com o sangue dos inimigos na guerra — acabou. O profeta não está vendo uma grande batalha; o profeta não está vendo, aliás, nem sequer uma batalha onde o povo de Deus sai vencedor; o que o profeta está vendo é que não haverá mais batalhas; as guerras simplesmente acabaram. A bota, a roupa, tudo vai "servir de pasto ao fogo"; o fogo vai comer todo instrumental de destruição e tudo que guarda marcas da destruição causada — toda lembrança de guerra será consumida; acabou, o fogo engoliu e ele não vomita. O profeta vê a grande fogueira e sabe que a guerra se foi para sempre, é fogo de paz, é boa luz!


 E o profeta está vendo isso, essa alegria, essa solução final para todo sofrimento, e de repente ele vê o que causou tudo isso — na paisagem do céu sendo limpo e raiando a alva, ele agora consegue distinguir o sol que vem surgindo, a luz que brilhou para o fim de toda opressão. É fantástico, inimaginável. O que o profeta vê não é um tratado internacional que trouxe concordância às nações; não foi uma força inigualável que impôs fim às disputas; não foi discurso, gênio ou lei; não foi um grande guerreiro vencendo a última guerra, não foi um grande rei impondo o último reino; não foi uma grande descoberta, um grande avanço tecnológico, uma grande filosofia — enfim, não foi uma grande conquista. Toda essa prosperidade e paz que o profeta viu não foi alcançada por ninguém. A solução final que ele viu simplesmente não foi uma conquista. O que ele viu — o fim da guerra, o fim da opressão, o brilhar da luz — foi um nascimento


 O povo exulta de alegria, o jugo foi quebrado, os restos das guerras foram queimados — tudo "porque um menino nasceu" (9:6). A maior das alegrias, a grande reviravolta, a última palavra final é dada no nascimento de um menino. "O governo estará sobre os seus ombros" — esses pequenos ombrinhos, os ombros desse bebezinho, carregarão o governo de tudo. Essa é a razão da exultação do povo. Por algum motivo que ainda não era conhecido, a pessoa mais importante do mundo é essa criança, e o evento mais importante do mundo é o nascimento dessa criança. Ele é o "Maravilhoso Conselheiro" mesmo antes de aprender a falar, o "Deus Forte" sendo criancinha frágil, o "Pai da Eternidade" sendo nascido nesse instante como filho de uma mulher; ele é simplesmente o "Príncipe da Paz", na serena soneca de uma criança de colo. Ele nasceu — acabou a opressão, acabou a guerra, raiou o sol da alegria e da paz: Ele nasceu.

 Mas por enquanto era só uma profecia; o profeta viu que a luz finalmente raiava, mas era no horizonte distante. Quem é esse que vinha? Quem quer que fosse, ele é a resposta para tudo. O Rei que vem a Israel vai nascer.


Graças à entranhável misericórdia do nosso Deus, pela qual nos há de visitar a aurora lá do alto,

para alumiar aos que jazem nas trevas e na sombra da morte, a fim de dirigir os nossos pés no caminho da paz.

Lc 1:78-79


 Ó vem, Emanuel!




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