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Só o Evangelho | Uma reiteração dos cinco "só" da Reforma Protestante

 Temos naturalmente a tendência de adicionar observações, detalhes, condições à salvação que o bendito Deus Triuno realizou em Seu povo. Mas um legado importantíssimo da Reforma são suas exortações a voltarmos à simplicidade do evangelho da soberana, graciosa e completa redenção. Especificamente, somos lembrando de cinco exclusividades: A única autoridade em que devemos crer de todo coração, o único motivo para sermos salvos, o único meio de sermos salvos, o único salvador e o único objetivo da salvação.


A autoridade 

 Só a Escritura é a autoridade absoluta dada por Deus;


 Toda verdade é julgada pela sua concordância com a Escritura, que é inspirada por Deus. A fonte do nosso conhecimento sobre a salvação é a bíblia, e pela bíblia qualquer ideia sobre a salvação é confirmada ou rejeitada. Se um argumento discorda da bíblia, não importa se foi dito por um líder religioso, por um cientista ou quem quer que seja; não importa se é bem articulado, bem pensado e bem ilustrado — se discorda da bíblia, não pode ser aceito. A revelação das verdades eternas está registrada de forma infalível na bíblia somente, de forma que ela é a autoridade à qual todas autoridades estão submetidas. 

 Assim, nela nos é revelada a salvação que o bendito Deus Triuno operou em Seu povo, e a salvação se deu dessa forma:


O motivo

  Só pela Graça sou salvo, não mereço de forma alguma o perdão de meus tão grandes pecados;


 Se Deus não se dignasse a nos salvar, não haveria motivo algum para sermos salvos. A salvação acontece por pura graça de Deus — o que moveu Deus a nos salvar não foi nada que ele viu em nós, nenhum mérito nosso, não foi questão de necessidade, mas o simples desejo generoso de nos resgatar do pecado, um ato que demonstra a riqueza da Sua graça.

 Sendo por pura graça e generosidade movido a nos salvar, o meio que Deus escolheu de livrar o Seu povo foi:


O meio

  Só pela Fé sou salvo, não há nada que me torne digno de salvação;

 Não são as obras o distintivo entre aqueles que Deus salva e os que são condenados. O ímpio certamente morrerá por seus pecados, enquanto o justo viverá, na disposição graciosa de Deus, não porque faz boas obras — não, o justo viverá pela fé. Ou seja, os condenados são condenadas pelas obras pecaminosas, pelo pecado, mas os salvos não são salvos pelas obras justas, pela santidade: o salvo é salvo pela fé, simplesmente. O caminho que Deus traçou para que os salvos fujam não é uma cota de boas ações, mas é a pura e simples fé nEle, é a confiança na Sua misericórdia.

 A misericórdia específica com a qual Deus nos salvou e em que deve estar nossa fé é:


O ato

  Só Cristo me salva, nenhum outro nem nada mais senão o Senhor Jesus Cristo, que morreu no meu lugar e ressuscitou me dando nova vida;


 A salvação pode ser especificamente apontada como sendo a pessoa de Jesus, Ele somente. O momento que me justifica, a cena em que meus pecados são perdoados, não é o sacrifício de Jesus há dois mil anos e a nossa boa conduta desde que O conhecemos, não é também a obra de Cristo e a intercessão de Maria ou dos santos por nós. O bilhete de entrada no céu não tem escrito, de um lado, a obra de Cristo, e, do outro, as nossas melhores obras, nem Cristo nos apresenta ao Pai e Maria confirma sua palavra. Não. O ato salvífico suficiente, perfeito, completo, foi realizado pelo Senhor Jesus somente. Deus olha para a fé como distinção entre salvos e perdidos — a fé posta em Cristo somente, que por ser o Filho de Deus encarnado pagou com Seu sangue toda a dívida do nosso pecado. Isso basta, nada mais é necessário 

 Sendo a salvação, por tanto, uma obra idealizada por Deus e realizada por Deus, nossa consideração dela deve ser:


O fim

  Para Glória Só de Deus, eu não sou louvável por ser salvo, mas Deus é louvável por salvar alguém como eu.


 Toda consideração sobre a salvação — começo, meio e fim — deve nos levar a reconhecer só Deus como responsável e, por isso, digno de honra. Devemos reconhecer que Deus teve a iniciativa e Ele mesmo também realizou tudo para a nossa salvação: proveu o sacrifício para perdoar nossos pecados, nos sustenta em santificação e nos levará puros para junto de Si na eternidade.


 Assim, um resumo da mensagem do evangelho afirmada na reforma seria:


 Segundo a Escritura, somos salvos pela graça, por meio da fé em Cristo Jesus, para a glória só de Deus.



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