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Encontrando o Flautista nos Portões da Alvorada | Edificação Literária

   “O Vento nos Salgueiros”, de Kenneth Grahame, é um clássico da literatura infantil britânica, e deveria ser um clássico infantil do mundo todo. É sobre alguns amigos animais e suas aventuras, tudo bem simples, que ora são hilárias e empolgantes, ora reflexivas e profundas. Aqui quero falar de um capítulo desses reflexivos: “O Flautista nos Portões da Alvorada”.


  Esse, que é o sétimo capítulo do livro, traz um retrato muito vívido de transcendência e encanto, coisas que fazem muita falta na nossa visão de mundo moderna. Ou seja, temos muito a aprender sobre glória com uma Toupeira, um Rato, e o que eles viram em uma aventura noturna.

  Por isso, vou gastar as próximas linhas resumindo a ação do capítulo, e logo em seguida tentarei ilustrar algumas formas em que esse episódio me edificou.


Perdidos na Madrugada


  O que inicia a movimentação dos protagonistas é uma situação angustiante: o filho de um amigo, uma Lontra filhote, desapareceu há algum tempo. Eles temem o que pode acontecer com um animalzinho assim perdido na floresta, e por isso Rato e Toupeira saem procurando o menino pela mata. É noite. 


  Sendo este Rato um Rato d'água, eles preferem subir em um barco e procurar sinais do menino ao longo do rio. É difícil enxergar qualquer sinal, pois a lua ainda não subiu no céu noturno.


  Eles vão seguindo o rio, que vai até que bem sereno e sem muito barulho, enquanto tateiam como podem em busca de sinais do garoto. A lua agora brilha no céu, mas a luz pálida não revela novas pistas.


  A noite vai passando, a lua some de novo, até que, de repente, Rato se põe na posição de quem escuta algo muito atentamente, se inclinando para um lado do barco, com a orelha em pé. Por alguns instantes ele ficou ali parado, ouvindo, como uma estátua. Toupeira ficou sem entender nada — ele só ouvia o som noturno mais comum de todos: o sussurro do vento nos juncos, arbustos, salgueiros e outras árvores —, até que finalmente Rato se moveu:


 “Se foi!”, disse com um suspiro, “Tão belo, tão estranho, tão novo! Já que era para acabar tão cedo, era melhor nunca ter ouvido. Ele acordou em mim um anseio que é dor, e nada mais parece valer a pena além de simplesmente ouvir aquele som mais uma vez e continuar ouvindo-o para sempre…

 “Não! Lá vem ele de novo!” ele gritou, ficando alerta novamente. Num transe, ele ficou calado por um bom tempo, encantado. 

 “Agora se vai e eu começo a perdê-la,” então ele disse. “Ah, Toupeira! A beleza dela! O alegre borbulhar e o júbilo, o som fino, claro e feliz de uma flauta distante! Eu nunca sequer sonhei com uma música dessas, e o chamado nela consegue ser ainda mais forte que a sua doçura! Continue a remar, Toupeira, continue! Pois a música e o chamado devem ser para nós.”

 (...) O Rato não respondia [ao que Toupeira dizia], se é que ouvia. Arrebatado, transportado, tremendo, ele estava possuído em todos seus sentidos por essa nova e divina coisa que tomou sua desamparada alma e mexia-a e balançava-a, um fraco porém feliz bebê em um forte braço que o sustentava.

  

  Que sentimento! Essa sequência enigmática captura de uma forma maravilhosa a sensação profunda de encontro com a Realidade transcendente. Você fica encantado, arrebatado, tremendo! Você fala em adjetivos, em superlativos, é tão cativante— essa Beleza divina te deixa rendido. Depois vou voltar a isso, mas já faço um aceno: tendo visto essa descrição tão completa da forma que o sentimento religioso nos atrai e deslumbra, pense um pouco em Moisés diante da Sarça Ardente. 


  Mas agora, voltando à narrativa em si. O Toupeira continua remando, com o Rato ainda extasiado. Continua, para por um momento, mas é encorajado pelo amigo, “Está ficando ainda mais claro e mais perto. Aliás, você também deve estar ouvindo agora— ah, sim, você está!”


 Sem nem respirar, paralisado, Toupeira parou de remar enquanto o som líquido daquela alegre flauta invadiu-o como uma onda, tomou-o sobre si e o possuiu por inteiro. Ele viu as lágrimas na bochecha do companheiro e curvou a cabeça, compreendendo. Por algum tempo eles ficaram ali, levados pelo leve movimento das águas nas margens do rio; então a nítida e autoritativa convocação que marchava de mãos dadas com a intoxicante melodia se impôs sobre Toupeira, e mecanicamente ele se curvou sobre os remos de novo. A luz ficava gradualmente mais forte, mas nenhum passarinho cantava como se esperaria que fizessem próximo do amanhecer; e, exceto a música celestial, tudo estava maravilhosamente quieto.


  Eles vão, então, convocados e encantados, sob autoridade e paixão, continuando o caminho pelo rio. Seguem, agora enxergando distintamente o entorno do rio com o primeiro esboço de luz no céu, até que chegam nas margens de uma pequena ilha, numa interseção do rio. Eles descem:


“Esse é o lugar do meu sonho na música, o lugar que a música tocou para mim,” o Rato sussurrou, como em um transe. “Aqui, neste lugar santo, aqui se em algum lugar, certamente vamos encontrá-Lo”


  Entram na ilha, seguindo a música, e:


 Então subitamente o Toupeira sentiu um grande Espanto cair sobre ele, um espanto que transformava seus músculos em água, curvava sua cabeça e plantava seus pés no chão. Não era um terror ou pânico — na verdade, ele se sentia maravilhosamente em paz e feliz — mas era um espanto que feria e segurava-o e, sem ver, ele já sabia que devia significar que alguma Presença majestosa estava muito, muito perto. Com dificuldade ele se virou para o amigo e o viu ao seu lado, intimidado, chocado, tremendo violentamente. Ainda permanecia um silêncio absoluto nos galhos populados de pássaros à sua volta; e a luz ainda crescia e crescia.

 Talvez ele nunca teria ousado levantar os olhos se não fosse o som da flauta, ainda que agora tivesse se calado, cujo chamado e convocação parecia ainda dominante e imperioso. Ele não poderia recusar, ainda que a própria Morte estivesse aguardando para golpeá-lo de vez, assim que olhou com olho mortal as coisas que com razão ficam ocultas. Tremendo, ele obedeceu, e levantou sua humilde cabeça e então, com aquela completa clareza do amanhecer iminente — enquanto a Natureza, corada com cores incríveis, parecia segurar o fôlego para o evento — e olhou nos próprios olhos do Amigo e Ajudador; viu o curso para trás dos chifres curvados, brilhando na crescente luz do dia; viu a ponta do severo e curvado nariz entre os olhos gentis que estavam postos sobre eles com bom humor, enquanto a boca barbada deixava escapar um pequeno sorriso nos cantos; viu o desenho dos músculos nos braços postos em ombros largos, a longa e flexível mão ainda segurando a flauta de pã, recém tirada dos lábios entreabertos; viu as esplêndidas curvas dos membros peludos dispostos com majestoso sossego no gramado; viu, por último, recolhido bem entre os seus cascos, dormindo profundamente, em completa paz e contentamento, a pequenina, rechonchuda e ingênua forma de uma lontra bebê. Tudo isso ele viu vividamente no céu do alvorecer, em um momento sem nem respirar de tão intenso; e ainda, enquanto ele olhava, ele vivia; e ainda, enquanto ele vivia, ele se maravilhava.

  “Rato!” Ele encontrou fôlego para sussurrar, tremendo. “Você está com medo?”

 “Com medo?” murmurou o Rato, com os olhos brilhando com um amor indescritível. “Com medo! DEle? Ah, nunca, nunca! E ainda assim — e ainda assim — Ah, Toupeira, eu estou com medo!”

 Então os dois animais, se agachando até a terra, curvaram as suas cabeças e de fato o adoraram.

 De repente, magnificamente, o largo disco dourado do sol se mostrou sobre o horizonte diante deles; e os primeiros raios, lançando-se por todo o plano campo em torno do rio, atingiram diretamente os olhos dos animais e os cegaram. Quando eles conseguiram enxergar de novo, a Visão tinha desaparecido, e o ar estava cheio do canto dos pássaros que saudavam a alvorada.


  Você concorda comigo que isso foi de tirar o fôlego? 

  Que grande visão! Deixando de lado por um momento o fato de ser o deus pagão Pã, perceba a eloquência da descrição. Eu particularmente acho que nunca mais verei situações assim, face a face, da mesma forma. Ah, Isaías! O capítulo 6, em que ele vê o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, sempre foi impactante— mas quanto mais agora! Ver o próprio Senhor, assim, assentado, com a aba do seu majestoso manto engolindo o Templo, miríades de serafins voando e voando em torno dEle dizendo em alta voz “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos!”, com os umbrais e colunas estremecendo devido a tamanho clamor e glória— Ah, ai de mim! 


Edificação literária


  Você me entende? O momento religioso fictício que o Flautista nos Portões da Alvorada cria com uma abundância de descrições é profundamente edificante para que possamos compreender, sentir e ver os momentos concisamente gloriosos e verdadeiros da Palavra de Deus. O modo que a cena vai se construindo, com todos os pássaros em silêncio, simbolizando a gravidade da situação, com a descrição longuíssima de como Toupeira estava, em seu interior, ao mesmo tempo plenamente convicto e cheio de medo, o detalhamento progressivo de cada parte da grandiosa visão— o poder literário que o narrador tem de pausar o tempo e focar, com quantos adjetivos forem necessários, cada percepção e cada sentimento nessa cena, cria em nós a sensibilidade que precisamos para interpretar melhor o peso de situações similares.


  Em outras palavras, a forma concreta e detalhada que o autor desse livro retrata o sentimento religioso lança uma tremenda luz na nossa própria capacidade de entender a vida real. De forma semelhante ao que o Espírito fez com Paulo em relação à poesia (fictícia) grega em Atos 17:28, Ele também lançou luz e aprofundou algumas passagens depois da leitura desse capítulo:


  Moisés estava cuidando do rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã, e levou o rebanho para o lado oposto do deserto, chegando ao Horebe, o monte de Deus. E o anjo do Senhor apareceu-lhe em uma chama de fogo numa sarça. Moisés olhou e viu que a sarça estava em chamas, mas não se consumia.

 Então disse:

 — Vou me aproximar para ver essa coisa espantosa. Por que a sarça não se consome?

 E, vendo o Senhor que ele se aproximava para ver, chamou-o do meio da sarça:

 — Moisés, Moisés! 

E ele respondeu:

 — Estou aqui.

 E Deus prosseguiu:

 — Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa.

 E disse mais:

 — Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.

 E Moisés escondeu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus

Êxodo 3:1-6


  Espanto que atrai. Esconder o rosto e ter medo, mas não fugir. Permanecer bem ali, tremendo. Vimos isso, sentir os músculos virarem água e a cabeça não se sustentar mas cair em reverência por tamanho espanto.


 Os céus proclamam a glória de Deus, 

 e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.

 Um dia declara isso a outro dia,

 e uma noite revela conhecimento a outra noite.

 Sem discurso, nem palavras; 

  não se ouve a sua voz.

 Mas sua voz se faz ouvir por toda a terra,

 e suas palavras, até os confins do mundo.

Salmo 19:1-4


  A natureza declara abertamente, proclama, a majestosa beleza — a glória — de Deus; e ainda assim, ainda assim, não há palavras. Em silêncio, a voz tênue da criação leva encanto pelo Criador a todos que tiverem ouvidos para ouvir. Já vimos isso, o som banal do vento nos juncos e árvores subitamente transformado em doce melodia, paralisantemente bela.


  Por fim, 


No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de seu manto enchiam o templo. Acima dele havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns aos outros:

— Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.

 E as bases das portas tremeram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.

 Então eu disse: 

— Ai de mim! Estou perdido; porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!

Isaías 6:1-5


  Uma visão, descrita no minuto-a-minuto acompanhando o olhar do narrador, mostrando distintamente cada detalhe da cena divina que se apresenta diante dos seus olhos; um sentimento de fraqueza e indignidade, a constatação de que a Presença é imponente, majestosa, numinosa; o medo, ah, o medo diante dessa cena— medo que sussurra, confessa, mas permanece. Já vimos isso muito, muito bem. Toupeira e Rato “estiveram” diante do Flautista nos Portões da Alvorada, mas Isaías de fato esteve frente a frente com o Senhor no Seu Santo Templo. 


  Agora, vou explicitar meu propósito com esse artigo:


 1. Deixar você diante do texto que me tocou tanto;

 2. Explicar alguns modos em que o texto secular efetivamente abençoa a leitura do texto verdadeiro e divino;


  Estes dois espero já ter atingido. Agora, 

3. Compartilhar o pequeno momento genuinamente devocional que esse capítulo me proporcionou.


  Para isso vou ter que contar como o capítulo se encerra.


Pã e Cristo


  Finalizando o resumo da história, você deve ter notado que assim que o sol nasce Pã some e os dois amigos se esquecem completamente da visão que tiveram. Bom, o narrador em seguida dá o motivo disso acontecer:


(...) Pois este é o último apreciável presente que o gentil semideus tem o cuidado de dar aos quais ele se revela em sua ajuda: o presente do esquecimento. Para não acontecer da espantosa lembrança permanecer e crescer, e ofuscar as risadas e o prazer, e a grandiosa memória assombrar e acabar estragando todo o restante das vidas dos pequenos animais ajudados em suas dificuldades — a fim de que sejam felizes e contentes como antes.


  Essa ação do semideus me deixou profundamente pensativo— ajudar e sumir, na pretensão de ser “para o bem”. Que coisa inusitada. Mas acabei chegando à conclusão que, de fato, a maior benção que Pã pode conceder é o esquecimento. Ele não faz nada além de manifestar a sua bondade em um único ato— ou seja, de certa forma, ele se empresta aos animais, e quando termina o que se propôs a fazer, se retira e abençoa com o esquecimento para que não sofram.


  Por outro lado, a mais bem-aventurada bênção de Cristo é que jamais vamos esquecê-Lo. Cristo é o Deus-homem que veio por nós. Pã se empresta, mas Cristo vem e fica, nisso Ele pôs o Seu prazer. Pã ajuda e vai embora, Cristo vem habitar com Seu povo. Pã suprime a falta que fará, mas Cristo não suprime, Ele supre.


  Mesmo sendo Criador Absoluto, Ele bem deliberadamente se dispôs a conviver com as criaturas, e nosso maior privilégio não é esquecer, mas conhecer— não é ser livre do anseio, mas ter o anseio atendido em genuína comunhão. 


  Pã é uma ficção até que bonita, mas o Senhor é realmente tão mais gracioso, justo, bom, manso e humilde— entre mil, mais beleza terá.

 Cristo não se empresta, Cristo se dá.



Um excelente texto sobre Pã neste livro e o Cristo vivo, em inglês: https://credomag.com/2012/07/christ-and-pan-in-the-wind-and-the-willows/



Pã foi encontrado nos portões da alvorada, mas Cristo é a própria Luz. 


Créditos dos ícones de sol e flauta:
<div>Icons made by <a href="https://www.freepik.com" title="Freepik">Freepik</a> from <a href="https://www.flaticon.com/" title="Flaticon">www.flaticon.com</a></div>

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