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O Centurião Romano, Sérgio Lopes | ACQMF #4

    O Centurião Romano, Sérgio Lopes

     “Quando Ele expirou o sol escureceu, / era mesmo o Filho de Deus. / Seu sangue em minhas mãos me fez entender / que por mim um inocente estava lá. / Pode um mortal, perante o próprio Deus, / ser irreverente e ateu?”


 Dessa vez, um irmão que conheço bem pouco, mas que tem uma canção que foi chave na minha visão da crucificação. Sérgio Lopes quase não aparece entre as minhas músicas mais ouvidas, mas Centurião Romano verdadeiramente apresentou o Cristo Crucificado e Seu sangue escorrendo diante dos meus próprios olhos. 

 Esse hino é baseado em uma cena da crucificação de Jesus em Mateus 27, especificamente o versículo 54, que diz: 

 “E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era o Filho de Deus.” Sérgio Lopes usa a confissão do centurião pra nos fazer sentir, por um momento, o grande temor e reverência que devemos ter diante da morte do Senhor Jesus. 

 Para isso, o hino mostra de um jeito muito vívido a reação do centurião. Ele olha as suas próprias mãos, que estão ensanguentadas, enquanto lembra que nenhuma acusação justa foi encontrada contra aquele Homem, que estava ali diante dele, morto. E agora, percebendo que todo o universo lamenta a Sua morte, com céus negando luz e terra tremendo, o centurião confessa com a própria boca, tomado de grande temor: “Esse era verdadeiramente o Filho de Deus.” Com a descrição dessa cena Sérgio Lopes nos chama a uma reflexão muito profunda.


A indiferença é impossível

   É verdade que a vida parece voar sem muita preocupação para o descrente, sempre relaxado e descontraído. Mas, contemplando essa cena, uma das perguntas retóricas que mais me impactaram na vida é direcionada ao centurião, a mim e a você: Pode um mísero mortal, perante o Próprio Deus Eterno, ser irreverente e ateu? É fácil ser indiferente ou zombador pelas costas dos outros, atrás de uma tela ou sozinho no escuro da noite, mas quando os nossos olhos são abertos para que vejamos a Ele, ai de nós. Toda boca é tapada, todo joelho se dobra. É impossível ser irreverente diante do Soberano Senhor de todas as coisas. Mas não pense no juízo final. É ainda mais espantoso, numinoso, perceber o sustentador do universo pendurado num madeiro, sangrando porque homens O espancaram e transpassaram mãos e pés. Sim– o infinito, onisciente e todo-poderoso Filho de Deus, encarnado em carne, ossos e vísceras, vertendo sangue porque Se entregou a fim de ser golpeado pela humanidade. Pode um mortal ficar indiferente diante disso? Esse hino gravou essa imagem a ferro e fogo na minha mente, e sou grato a Deus por ter sido assim. Essa realidade é a coisa mais séria da vida, e não haverá irreverência nem distração quando estivermos diante da face de Deus. 


     Transformado 

  Isso é tão importante porque é seguido pela segunda estrofe do hino.

 “Posso agora crer / Que o preço do perdão Ele pagou na cruz, / E minha gratidão será amar Jesus / E amar a cruz porque vazia está. / Eu não tenho mais Aquele coração que não o conheceu / E aquelas mãos que derramaram sangue Seu, / Agora só consigo Lhe amar.”

 Eu acho que pode ser interessantes dividirmos essas duas estrofes como dois movimentos. Na primeira, que narra a cena do centurião, temos a visão do homem em relação a Deus. Em outras palavras, no começo do hino nós somos lembrados do quão grave é a situação da humanidade pecadora diante do Santo Deus: Nossas mãos estão ensanguentadas de sangue inocente. A música marca bem esse peso: a primeira estrofe tem um ritmo lento, só dois instrumentos e um vocal. Mas a mudança é nítida na segunda estrofe: entram os backing vocals e a bateria, enquanto cantam alegremente sobre a certeza da salvação. Então, aqui temos um outro movimento. Não é mais sobre o que nós fizemos a Deus, mas sim sobre o que Ele fez por nós. 

 Diante disso, vemos na segunda estrofe o poder transformador de Cristo. Nós, que éramos inimigos declarados, parte da humanidade que O crucificou, fomos redimidos e recebemos fé, esperança e amor. Pode-se dizer que nós que vimos a morte do Senhor Jesus e nos arrependemos dos nossos pecados fomos mudados, como se tivéssemos nascido de novo. Isso é o que chamamos de regeneração – a doutrina de que quem confia em Jesus recebeu o Espírito Santo e agora tem uma nova vida em santidade e amor a Deus. Por isso, passamos a odiar o pecado e a louvar o Deus que nos salvou. “Não tenho mais aquele coração que não O conheceu”. Sim, e na verdade o próprio Cristo ensinou sobre essa transformação, quando disse a Nicodemos: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo" (João 3:3). Diante dessa mudança linda que ocorre no nosso coração fica bem clara a honestidade do último verso: “Agora só consigo Lhe amar!” O Senhor fez tudo por nós, então agora nosso maior prazer é viver para Ele.

 Eu acho que essa citação do Tim Keller encerra com chave de ouro a nossa conversa de hoje:

 “É impossível ter conhecido o verdadeiro Jesus e ser indiferente. Você ou se curva em maravilha ou vai embora ofendido.” 






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