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Machado na apostila: A diferença da leitura comum para a leitura literária

 Eu gostaria de trazer aqui um pouco do que tenho lido e pensado a respeito da literatura, focando não tanto quem lê ou o que lê, mas como lê, pois creio que existem dois modos diferentes de encarar os textos. Há, primeiro, a leitura comum, que é a da apostila ou de qualquer texto informativo, e preocupa-se com a informação. Lendo desse modo, o leitor me parece estar sempre resumindo e sintetizando ao máximo os dados da leitura. No entanto, a leitura de literatura não pode ser desse modo e se deter meramente na informação, mas precisa ir além e considerar os aspectos formais e os efeitos do texto, afinal a morte de Brás Cubas não é manchete de jornal, mas sim obra de arte. Por isso, o leitor precisa estar treinado e equipado para ler de maneira diferente os textos literários, sem meramente resumir a informação, como um jornalista, mas atentando a todo o impacto dado à informação no texto, como um crítico, ou seja, lendo de um modo especificamente literário, que é o segundo modo de leitura. Diante disso, pretendo discutir um pouco essa diferença intrínseca entre as duas, trazendo para a conversa Terry Eagleton, C. S. Lewis e Northrop Frye.


 O primeiro modo de leitura é apropriado para certos gêneros de textos, mas no caso da literatura acaba sendo infiel. Com isso quero dizer que a leitura comum, ou informativa, é perfeita para apostilas: você lê, entende, e resume tudo da forma mais concisa e fácil de lembrar possível. Frases simples, objetivas, todas iguais e sem personalidade— quando estudamos queremos saber, isso basta. Terry Eagleton, crítico literário britânico, é muito didático no ensino desses diferentes tipos de leitura, e dá o seguinte exemplo sobre a simplicidade do texto comum em relação ao texto literário:¹ pense em um aviso de obras, do tipo “Obras na via: Trânsito lento do km 20 ao 32”; esse texto é puramente informativo, e, por isso, a linguagem é só um veículo. Assim, ao falar com outra pessoa sobre o aviso pouco importa se você diz “A pista está em obras e congestionada do km 20 ao 32” ou “eles estão arrumando a rodovia, melhor evitar do 20 ao 32, está lotado”, de ambas formas você está sendo fiel ao texto, pois as palavras exatas eram só um veículo, como também a sua fala é só um veículo. A questão é que, conforme Terry diz, “[um poema] é muito mais difícil de parafrasear, pelo menos sem estragar totalmente o verso.” Ele diz isso porque se você falar de uma obra literária como se ela fosse um texto meramente informativo, acabará planificando a sua profundidade. Por exemplo, alguém que lê desse modo o Senhor dos Anéis acabará descrevendo-o como “seres fantásticos de diversas raças viajando pela terra a fim de destruir um anel de poder e assim destronar o tirano maligno”. A história é isso? Sim, é. A história é só isso? Não, nem um pouco. Ou seja, esse resumo informa, mas não é exatamente fiel: a imagem que eu tenho a partir dele é de uma história clichê de bem contra mal, com personagens planos, cenas rasas e objetivos arbitrários– nada mais distante do rico artesanato cheio de angústia, esperança e peculiaridades narrativas da obra. E é justamente esse o problema, pois quem faz um resumo desses também deve ter lido o livro da maneira errada, atentando só a informações. 


 O segundo modo de leitura, por outro lado, é adequado justamente à ficção, pois se atenta àquilo que destaca esse gênero dos demais. Ou seja, a leitura literária é especial pois o texto literário também é especial. Seguindo C. S. Lewis, podemos entender as obras literárias como sendo compostas por conteúdo, ou seja, o acontecimento (que ele chama de logos), e forma, que é o conjunto das técnicas que criam ritmo, contraste e foco ao narrar o acontecimento (que ele chama de poiema), de modo que a leitura fiel à literatura é a leitura que observa tanto o que é dito quanto como é dito. É no desenvolvimento desses conceitos que a distinção se torna útil: 

“(...) As partes do poiema são coisas que nós fazemos. Pensamos em muitas fantasias, sentimentos imaginados e pensamentos em uma ordem e um tempo prescritos pelo poeta (...). Isso é menos como olhar para um vaso que “fazer exercícios” sob a orientação de um especialista, ou tomar parte em uma dança sincronizada criada por um bom coreógrafo.”²


 Sendo assim, tratar as obras literárias como mera informação, isto é, descrever só o logos e não o poiema, é tão desleal quanto descrever um exercício dizendo os músculos envolvidos mas não como flexioná-los. Isso é relevante pois o impacto único da literatura é justamente o seu ritmo e foco, seu poiema. Concordo com o crítico literário canadense Northrop Frye, que diz que a magia literária é especialmente a sua capacidade de se deter sobre todos detalhes da vida e focalizá-los, mostrando neles a “realidade que não se encontra na experiência real”. Em outras palavras, só a literatura pode acentuar a gravidade das situações que na vida real são efêmeras, conseguindo pôr em perspectiva de importância, comparar, contrastar e ironizar cada detalhe. Ele dá o exemplo de uma guerra, que mostra seu verdadeiro (e invisível) impacto só no romance.³ Acho que esse exemplo fica bem claro: a morte de um soldado, na vida real, dura três ou quatro segundos – ele está em pé, leva um tiro, cai, e só é visto depois que o conflito termina, na contagem dos mortos –; no entanto, a realidade da morte de um soldado é muito maior — aquele ser humano criado à imagem de Deus foi brutalmente interrompido, teve as suas infinitas possibilidades de apreciar a dádiva da vida reduzidas a zero por um pequeno projétil que acertou algum órgão vital; essa realidade invisível só é feita visível na literatura, onde a morte pode ter sua gravidade descrita com ritmo e foco apropriados. Por isso, nada é mais incorreto do que fazer o processo oposto e reduzir a rica descrição da morte de um personagem a resumos como “aí chega no meio do livro e ele morre”. Portanto, podemos dizer que a leitura literária é a arte de entender os acontecimentos e seus ritmos, as informações e suas relações entre si— compreender o modo específico em que o escritor torna verbalmente visível a realidade invisível da história. 

  Enfim, para deixar ainda mais nítida a diferença entre as duas formas de leitura, quero fazer um experimento: resumir uma mesma cena do conto O Espelho de Machado de Assis de forma informativa e de forma literária. É uma tentativa rápida de concretizar a lógica exposta até aqui.


 Resumo informativo: Os escravos da casa fogem e o homem fica sozinho, entediado e sentindo muita solidão.


 Resumo literário: O homem acorda e vê que os escravos fugiram. Sozinho, passa a notar quão vazio o dia lhe parece sem outras pessoas por perto, focando mais na solidão do que na fuga dos escravos. Ele passa o dia e a noite sem se atentar a nada exceto ao relógio, que simboliza a angústia da sua solidão, pois seu tic-tac só pode ser ouvido devido à total falta de pessoas em todo o espaço da narrativa.


 Acima, tentei mostrar como pequenos detalhes narrativos podem enriquecer a qualidade do resumo, como atentar à articulação dos sentimentos do personagem (no exemplo, especificando como ele externa a sua solidão, ao perceber o dia e a noite vazios) e a tentativa de relacionar suas observações com seu estado de espírito (no exemplo, a obsessão do personagem com o relógio e sua inquietação com o silêncio). Esse tipo de detalhamento não é vaidade, pois só assim o ponto do texto permanece claro. O sentimento de solidão do homem e sua obsessão com o relógio só são importantes no texto original pois estão associados ao seu sentimento de vazio existencial fora da sociedade, e um resumo informativo ignoraria essas nuances.


 Finalmente, encerro com uma citação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa que resume bem o que deveria acontecer:


 “A questão do ensino da literatura ou da leitura literária envolve, portanto, esse exercício de reconhecimento das singularidades e das propriedades compositivas que matizam um tipo particular de escrita”— e que Deus abençoe os professores no ensino desse exercício.




 Notas:


  ¹ Citação completa de Terry Eagleton: 

 

  “O que entendemos por obra “literária” consiste, em parte, em tomar o que é dito nos termos de como é dito. É o tipo de escrita em que o conteúdo é inseparável da linguagem na qual vem apresentado. A linguagem é constitutiva da realidade ou da experiência e não se resume a mero veículo. Tome-se a placa de estrada dizendo: “Em obras: grande lentidão na Ramsbotton Bypass pelos próximos 23 anos”. Aqui, a linguagem é simples veículo para algo que pode ser expresso de inúmeras maneiras. Uma autoridade local mais ousada poderia até pôr em versos. Se não soubessem por quanto tempo a estrada ficaria bloqueada, daria para rimar “Obras interditando” com “Sabe Deus até quando”. Já “Ao se putrefazerem, muito mais tresandam os lírios do que as ervas daninhas” [Shakespeare, “Soneto 94”] é muito mais difícil de parafrasear, pelo menos sem estragar totalmente o verso. E é isso, entre várias outras coisas, o que queremos dizer ao chamá-lo de poesia.”


 ² Citações completas do C. S. Lewis:


  “(...) O que impede um bom leitor de tratar uma tragédia — ele não falará muito de uma abstração como “Tragédia” — como um mero veículo para a verdade é a sua consciência contínua que ela não apenas significa, mas é. Não se trata simplesmente de logos (alguma coisa dita), mas de poiema (alguma coisa feita). O mesmo é verdadeiro a respeito de um romance ou poema narrativo. São objetos complexos e feitos de maneira cuidadosa. Prestar atenção nos objetos que são é o nosso primeiro passo. Valorizá-los principalmente pelas reflexões que podem sugerir a nós ou pelos aspectos morais que podemos deles extrair é um exemplo flagrante de “usar” em vez de “receber”.”


 “(...) As partes do poiema são coisas que nós fazemos. Pensamos em muitas fantasias, sentimentos imaginados e pensamentos em uma ordem e um tempo prescritos pelo poeta (uma das razões pela qual é raro que uma história muito “emocionante” produza a melhor leitura é que a curiosidade ambiciosa nos tenta a ler algumas passagens mais rapidamente do que o autor pretendia). Isso é menos como olhar para um vaso que “fazer exercícios” sob a orientação de um especialista, ou tomar parte em uma dança sincronizada criada por um bom coreógrafo.”

 

 ³ Citação completa de Northrop Frye:


 “[Depois de discutir como literatura gera tolerância] O que produz a tolerância é o poder do distanciamento imaginativo, que nos permite tirar as coisas do alcance da ação e da crença. A experiência é quase sempre trivial; o presente não é tão romântico quanto o passado; os ideais e as grandes visões teimam em tornar-se cafonas e sórdidos na vida prática. A literatura reverte esse processo. Quando a experiência é afastada um pouco de nós, como a experiência da guerra napoleônica em Guerra e paz, de Tolstói, ela aumenta tremendamente em dignidade e exuberância. Lembro-me de Tolstói por ele ser um escritor que jamais tentaria glamorizar a guerra em si, ou relativizar o horror dela. Até em Guerra e paz há um elemento de ilusão, mas essa ilusão apresenta-nos uma realidade que não se encontra na experiência real de uma guerra: a realidade da proporção e da perspectiva, da visão ampla, da compreensão do todo — uma realidade que só o distanciamento pode dar. A literatura ajuda a criar esse distanciamento, assim como a história, a filosofia e tudo o mais quanto valha a pena estudar. Mas a literatura ainda tem algo mais a oferecer, uma peculiaridade muito sua, tão absurda e impossível quanto a magia primitiva que ela tanto lembra.”


⁴ Cena completa:


“- Ouçam-me. Na manhã seguinte achei-me só. Os velhacos, seduzidos por outros, ou de movimento próprio, tinham resolvido fugir durante a noite; e assim fizeram. Achei-me só, sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada. Nenhum fôlego humano. Corri a casa toda, a senzala, tudo; ninguém, um molequinho que fosse. Galos e galinhas tão-somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as moscas, e três bois. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano. Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior. Não por medo; juro-lhes que não tinha medo; era um pouco atrevidinho, tanto que não senti nada, durante as primeiras horas. Fiquei triste por causa do dano causado à tia Marcolina; fiquei também um pouco perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela, para lhe dar a triste notícia, ou ficar tomando conta da casa. Adotei o segundo alvitre, para não desamparar a casa, e porque, se a minha prima enferma estava mal, eu ia somente aumentar a dor da mãe, sem remédio nenhum; finalmente, esperei que o irmão do tio Peçanha voltasse naquele dia ou no outro, visto que tinha saído havia já trinta e seis horas. Mas a manhã passou sem vestígio dele; à tarde comecei a sentir a sensação como de pessoa que houvesse perdido toda a ação nervosa, e não tivesse consciência da ação muscular. O irmão do tio Peçanha não voltou nesse dia, nem no outro, nem em toda aquela semana. Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais cansativa. As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei este famoso estribilho: Never, for ever! - For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordei-me daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: - Never, for ever! - For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita, ou mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém, nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro, ninguém em parte nenhuma…”





 Bibliografia:


EAGLETON, Terry. Como Ler Literatura. 1. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2019.


LEWIS, C. S. Um Experimento em Crítica Literária. 1. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2019.


FRYE, Northrop. A Imaginação Educada. 1. ed. Campinas, SP: Vide Editorial, 2017.


ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 1. ed. Brasília: [s. n.], 1997. 




Comentários

  1. Pedro, acho que você não deve ser de Exatas kkkk Brincadeirinha...
    Gostei de suas colocações. Realmente, a leitura literária vai muito além das palavras registradas, pois demanda inferências, intertextualidade, maturidade leitora, entre outras habilidades. As palavras são, portanto, apenas a ponta de um iceberg. Peguemos como exemplo o conto machadiano que você traz em suas reflexões. A narrativa nos leva para uma direção que chegamos a acreditar que algo "do além" vai acontecer quando, de repente, o autor quebra a narrativa e nos revela uma crítica a seres humanos como nós, de carne e osso, com virtudes e vícios capaz de se submeter a tudo para ter os caprichos de seu ego atendidos. O mestre da ironia, com luva de pelica, ataca a sociedade hipócrita do século XIX sem usar sequer uma palavra ofensiva ou predicativo pejorativo. Como percebemos isso? Pelos olhos de leitor literário. Assim, a literatura é um espelho que reflete a visão particular do autor diante do contexto histórico e social em que está inserido. Para nós, professores, despertar nos alunos esse olhar é mais do que ossos do ofício; trata-se de árdua missão.
    Parabéns pelo seu texto.

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    Respostas
    1. Obrigado, fico muito feliz com as observações!

      Você colocou perfeitamente o que eu tentei expressar, o ponto que Machado de Assis faz no conto está mais no contexto e na ironia da narrativa do que em críticas explícitas, e só uma formação de leitura literária nos torna capazes de perceber isso.

      Sobre ser de exatas, acho que não mesmo 😂. Pretendo começar a fazer Letras ano que vem, se Deus quiser. Gosto de gramática, linguística e literatura, e está sendo muito enriquecedor arriscar traduções e redigir textos de vários estilos. Acho que a faculdade só pode expandir e aprofundar o que já está sendo motivo de alegria e satisfação pra mim, por isso lá vou eu! E pode ter certeza que ao longo dos anos ainda vamos conversar muito, conforme for possível. Agradeço a Deus por te ter como professora (ainda hoje, depois do fim da escola)!

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  2. Pedro, acho que você não deve ser de Exatas kkkk Brincadeirinha...
    Gostei de suas colocações. Realmente, a leitura literária vai muito além das palavras registradas, pois demanda inferências, intertextualidade, maturidade leitora, entre outras habilidades. As palavras são, portanto, apenas a ponta de um iceberg. Peguemos como exemplo o conto machadiano que você traz em suas reflexões. A narrativa nos leva para uma direção que chegamos a acreditar que algo "do além" vai acontecer quando, de repente, o autor quebra a narrativa e nos revela uma crítica a seres humanos como nós, de carne e osso, com virtudes e vícios capaz de se submeter a tudo para ter os caprichos de seu ego atendidos. O mestre da ironia, com luva de pelica, ataca a sociedade hipócrita do século XIX sem usar sequer uma palavra ofensiva ou predicativo pejorativo. Como percebemos isso? Pelos olhos de leitor literário. Assim, a literatura é um espelho que reflete a visão particular do autor diante do contexto histórico e social em que está inserido. Para nós, professores, despertar nos alunos esse olhar é mais do que ossos do ofício; trata-se de árdua missão.
    Parabéns pelo seu texto.

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