Pular para o conteúdo principal

Veremos a Sua Face e Seu Nome estará sobre nós | Apocalipse 22:3-4

  Você já deve ter se perguntado como será o Céu. Ou melhor, sendo mais bíblico, como será a vida na Nova Jerusalém? Bom, essa pergunta é muito ampla. Creio que na realidade a pergunta que mais toca o coração, e que mais temos proveito em procurar e descobrir, seja essa: Eu realmente vou estar junto de Deus, ou Ele ainda estará longe? Vamos explorar um pouquinho da resposta a essa pergunta a partir do finalzinho de Apocalipse.

     “Já não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão. Eles verão a sua face, e o seu nome estará na testa deles.”

Apocalipse 22:3-4 NVI


 Trecho breve mas riquíssimo! Em suma, nós, a Sua igreja, O serviremos. Ou seja, Deus mesmo, o próprio Deus Triúno, habitará na mesma cidade que nós, e nós O serviremos. Isso quer dizer que o Senhor estará acessível— na mesma cidade, e nós com permissão e liberdade de ir até Ele, na Sala de Seu Trono. Deus estará perto de nós, e nós perto dEle. Mas essa resposta ainda é muito rasa diante da profundidade do que o Espírito nos revela aqui. Venha, vamos considerar cada parte com calma.


Ver Deus de perto, olhos nos olhos


 "Eles verão a Sua Face." Essa pequena frase diz muita coisa. Mas, para meditar melhor nessa promessa, é melhor voltar um pouco na história, até Moisés. Em determinado momento, já no deserto do outro lado do mar vermelho, Moisés quis conhecer melhor o Senhor nosso Deus, e esta é a linda cena que se seguiu:


     “Então disse Moisés: “Peço-te que me mostres a tua glória”. 
 E Deus respondeu: “Diante de você farei passar toda a minha bondade e diante de você proclamarei *o meu nome:* o Senhor. Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão”.
 E acrescentou: “Você *não poderá ver a minha face,* porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo”.
 Então o Senhor desceu na nuvem, permaneceu ali com ele e proclamou o seu nome: *o Senhor.*

 E passou diante de Moisés, proclamando:


 “Senhor, Senhor,

 Deus compassivo e misericordioso, 

 paciente, cheio de amor e de fidelidade,

 que mantém o seu amor a milhares

 e perdoa a maldade,

 a rebelião e o pecado.

 Contudo, não deixa de punir o culpado;

 castiga os filhos e os netos

 pelo pecado de seus pais,

 até a terceira e a quarta gerações.”

 

 Êxodo 33:18-20, 34:5-7 NVI


 Moisés pediu para ver a glória de Deus. Em resposta a isso, Deus proclamou Seu Nome a Moisés, revelando Seu amor e santidade, a glória de Ser quem É. Contudo, não lhe permitiu ver a Sua Face. Esse servo de Deus esteve mais próximo do Senhor do que qualquer outro esteve, ouviu Ele falar Seu Nome e revelar Sua bondade e graça, viu-O descer em uma nuvem bem diante de seus olhos— mas ainda não pôde ver a face de Deus. Ainda precisou ficar a uma distância segura. Mas já não será mais assim.


 Conosco, agora que Cristo Jesus revelou todo o coração do Pai na cruz, o relacionamento é diferente. O Senhor Jesus nos trouxe à comunhão com Deus, nos deu Seu Santo Espírito que nos afeiçoa a chegar a Deus em amor, humildade e confiança, dizendo "Aba, Pai!" A igreja terá a glória de ver a face de Deus e do Cordeiro. Sim, pela graça de Cristo, Moisés, Davi, Zaqueu, Tiago, Agostinho, Lutero, você, eu e o restante de toda a igreja de Cristo de todos os séculos, de todo o mundo, tanto os perseguidos como os pregadores, dos fiéis anônimos aos missionários— todos nós poderemos servir a Deus mesmo, morando na Sua própria Cidade. Não serviremos de longe, mas de perto.


Você não deseja que esse dia venha logo? Ver esse Deus que nos salvou — que nos adotou — face a face. Como diz um poema de Agnes Bulmer, "Ele, para a mente de arcanjos um tema demais vasto, / O qual ainda assim, quando os pequeninos simples hosanas trazem, / Inclina-se em gentil graça, cobrindo-se com asas de misericórdia." Em outras palavras, esse elevadíssimo Deus, três vezes santo, nos acolhe em graça e amor. Por isso, não, não estaremos longe. "O Senhor é Santo", diremos uns aos outros, mas entrando na Sala do Trono também diremos "Senhor, meu Senhor, Tu és maravilhoso!". Tu, cuja adorada face verei, és meu Deus— *meu* Deus, cuja beleza e glória hei de ver. Estaremos perto, pertinho, do nosso Deus– não será necessária distância segura, pois Ele mesmo nos adotou e trouxe para Si.


Deus verá Seu amor sobre nós


 No entanto, a promessa não acaba aí. "Seu Nome estará na testa deles." Numa leitura superficial, isso é bem estranho. Eu mesmo já li apocalipse mais de uma vez e sempre achei essa imagem bastante desconfortável. Mas o ponto aqui não é que teremos uma tatuagem ou coisa assim. Na verdade, aqui o anjo mostrou a João algo lindo, mas temos que ter em mente um contexto maior.


 Lembre-se que quando o Senhor mostrou Sua glória a Moisés o fez proclamando Seu Nome. Lembre-se também que o primeiro pedido que nosso Senhor Jesus nos ensinou a fazer foi "Santificado seja Teu Nome". Em suma, Deus se importa muito com Seu Nome. O Nome do Senhor é glorioso justamente por ser Seu.


 Agora, voltando ao texto de Apocalipse, percebemos um brilho especial no fato de que teremos Seu Nome em nossas testas. Se você parar pra pensar, você não vê a sua própria testa com muita frequência, normalmente as outras pessoas é que veem. E justamente aí está a beleza da frase. A imagem é de servos servindo a Deus. Veja, entraremos na Sala do Trono, estaremos com Deus, falaremos com Ele olhos nos olhos, e Ele nos receberá cheio de amor e alegria— mas por quê? Como? Quem pode ver a face de Deus e viver? 


 Ora, Deus, ao nos receber, verá em nós Seu próprio Nome. Pense no que Deus pensará quando nos vir chegando: "Ah, meu filho vem me servir, meu filho, que criei e salvei para minha glória! Esse servo em que coloquei meu próprio Nome está comigo para sempre!" Diante dessa promessa você pode descansar sabendo que não será um estranho na Nova Jerusalém. Não será um estrangeiro, estará em seu verdadeiro lar. Você será conhecido por nome– aliás, melhor ainda, Deus te conhecerá porque porá na sua testa o Seu Próprio Nome. Deus não terá dúvidas quando você entrar no salão, te verá e saberá que você é dEle. Não se preocupe, você não precisa criar um nome para si mesmo. Basta ser um servo de Deus— não há bem-aventurança maior que ser conhecido e amado pelo próprio Deus, acolhido por Ele, pela beleza do Seu próprio Nome.


Conclusão


 O Senhor Jesus revelou estas coisas a João, que estava exilado, perseguido por ser fiel ao único Rei, o próprio Cristo Jesus. Ele recebeu essa revelação para transmitir a igreja que, como ele, estava sofrendo tamanha perseguição. Sofrendo fisicamente, maltratada e pobre no mundo. Com isso vemos que, de acordo com a revelação que o Senhor Jesus deu à Sua igreja, a esperança dos cristãos, sofrendo ou confortáveis, é uma só: conhecer a Face de Deus, morando com o Senhor na Nova Jerusalém, e saber que somos conhecidos por Ele, pois Ele nos salvou para Sua glória– enfim, estar com o Senhor. Para encerrar, creio que Soren Kierkegaard, filósofo cristão do século XIX, expressou ter a mesma esperança quando ditou o hino que deveria ser inscrito em sua lápide:


 "Muito em breve,

 Hei de vencer;

 A batalha toda,

 Terminará de vez.

 Poderei então descansar

 Em salões de rosas,

 E sem cessar,

 E sem cessar,

 Falar com meu Jesus."




Crédito do ícone de trono da imagem:

Icons made by <a href="https://www.flaticon.com/authors/freepik" title="Freepik">Freepik</a> from <a href="https://www.flaticon.com/" title="Flaticon"> www.flaticon.com</a>



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A traição de Monk e a Sinceridade de Deus | Comentário Cultural

 A série Monk, uma das minhas preferidas, acompanha um detetive particular com TOC, perfeccionismo e outras particularidades. Ele é um detetive extraordinário, capaz de resolver qualquer caso. Ou melhor, qualquer caso, exceto um: o assassinato da sua esposa, ocorrido muitos anos antes do que é retratado na série. Ele amava profundamente a esposa, Trudy, e mesmo oito anos depois da sua morte ainda não conseguiu deixar de pensar constantemente sobre ela, lamentando todos os dias a sua morte. Ele vive sozinho, e sua felicidade é relembrar a vida alegre que teve com ela.  No entanto, em determinado episódio da quarta temporada, Monk recebe uma notícia aterradora: Testemunhas disseram que Trudy está viva, tendo apenas forjado a própria morte para deixar Monk em paz. Ao saber disso, o detetive entra em crise e fica catatônico. Não sabe o que dizer, não sabe o que pensar. A cena é comovente. As únicas palavras que ele diz, completamente atônito, são:  "Se isso for verdade, então nada é v

Jesus das Cicatrizes, de Edward Shillito | Tradução de Poema

Jesus das Cicatrizes, de Edward Shillito Se nunca buscamos, Te buscamos então; Teus olhos são chamas no escuro, nossas únicas estrelas, diretrizes; Precisamos dos espinhos de Tua fronte na nossa visão; Precisamos de Ti, Oh Jesus das Cicatrizes. Os céus nos assustam— calmos demais são; Em todo universo não temos nós lugar. Nossas feridas estão doendo; os bálsamos, onde estão? Senhor Jesus, por Tuas Cicatrizes, Tua graça vamos clamar. Se, quando nossas portas estão fechadas, a nós Te achegas, Revela estas mãos, este Teu lado; Sabemos o que são feridas, não temas, Mostra-nos Tuas Cicatrizes, sabemos seu significado. Os outros deuses eram fortes; mas Tu foste fraco; Eles cavalgaram, mas Tu tropeçaste até o trono, és diferente; Mas às nossas feridas só as de Deus podem falar de fato, E deus algum tem feridas, senão Tu somente. ~ Edward Shillito (1872-1948)  Esse poema acima é minha tradução de "Jesus of the Scars", de Edward Shillito, composto em reação aos horrores da Primeira Gu

"O Justo Viverá pela Fé": Como entender o estopim da reforma?

   A narrativa básica da reforma protestante é simples e poderosa, bem resumida na seguinte estrofe de “Tese 95”:  Mas à luz de velas um homem lê Que o justo viverá pela fé É, o justo viverá É, o justo viverá pela fé É, o justo viverá  — Tese 95, João Manô  Em outras palavras: Certo dia, o Espírito Santo iluminou Martinho Lutero enquanto ele lia Romanos 1:17 de modo que ele percebeu que a salvação que Deus garante não é baseada nas obras nem nos méritos, mas é dada gratuitamente, pela fé nEle. A questão que fica é: Paulo faz um bom uso de Habacuque quando ele cita Hc 2:4 como base dessa justificação pela fé? Bom, é claro, ele é um apóstolo de Cristo, um mensageiro fiel da verdade – mas será que podemos entender esse versículo da mesma forma que ele, simplesmente lendo o texto em seu contexto? Eu creio que sim.  Para isso, vamos seguir o raciocínio do texto:  No capítulo 1, Habacuque questiona o Senhor sobre a pecaminosidade de Judá, e a resposta de Deus estabelece que Ele está enviando