Das Veias de Emanuel, Edilson Botelho
“Há uma fonte transbordando sangue puro, / que nasceu das veias de Emanuel. / Quem morreu na amargura do pecado / sabe o quanto é doce nela mergulhar.”
Um hino lindo. De todas canções compostas pelo Stênio Marcius, essa é a que ainda mais me fere todas as vezes que escuto.¹ O irmão Edilson Botelho canta a imagem de um lago que brota sangue para falar da nossa salvação. É desconfortável? Sim, essa imagem é bastante gráfica e violenta. É incrivelmente acertada? Sim, é a imagem que me dá a maior esperança quando lembro do meus pecados.
Sangue. Morte. Salvação.
Vamos seguir o fluxo do hino. Vamos começar justamente com essa imagem: “Há uma fonte transbordando sangue puro que nasceu das veias de Emanuel.” Ele quer que vejamos um lago, transbordando só de sangue. Se acompanhamos a fonte de onde ele sai, nossos olhos são levados à Cruz, pois é de lá que esse sangue escorre, vertendo dos ferimentos de Jesus Cristo. Emanuel é um nome de Jesus, e significa “Deus conosco”. Então, escolhendo esse nome, Edilson nos diz: Há um lago cheio do sangue que escorreu das feridas do Deus encarnado. Você percebe o peso dessa frase? É uma imagem extremamente crua e bruta. Eu sei que não é bonito, mas eu quero que você também veja o que eu vi. A salvação é visceral. Não é pensamento positivo, nem uma esperança vazia de que “vai ficar tudo bem”.
Quando você quiser pensar na salvação, na sua mente, saia de onde você está e viaje até o calvário do século 1°. Veja ali, preso por mãos e pés, sedento, Jesus. Veja como Ele sangra, como sofre. Não é uma morte aparentemente heróica. É triste, violenta. Todos os que passam por ali zombam dEle. O Seu sangue está escorrendo pelo corpo, e mãos e pés estão presos. O sangue pinga gota a gota na terra. Agora, lembre-se que esse homem ferido e esmagado não é qualquer um. Ele é Deus, é o próprio, amado e eterno Filho de Deus Pai. O Deus Todo-Poderoso está em carne, ossos e vísceras, afligido pelos homens e posto à morte. Jesus Cristo ainda é Deus, ainda tem todo o poder, mas se dispôs a sofrer, chorar e sangrar. Ele fez isso para salvar Seu povo. Nem uma gota sequer caiu em vão sob a cruz. Podemos dizer, usando a metáfora do hino, que todas elas foram recolhidas e se tornaram uma fonte que lava os pecadores que confiam no Senhor. Sim, a salvação é visceral— mas é exatamente o que precisamos.
O asco do pecado e o banho da redenção
Por outro lado, além dessa visão de Cristo que nos revira o estômago, temos também um espelho da nossa própria condição:
“Eu já vi toda espécie de indigente, gente suja, pervertida, e até demente. Eu ouvi o gemer das multidões indo lá arrastando em dor os seus grilhões. Há uma fonte transbordando sangue puro que nasceu das veias de Emanuel. Quem morreu na amargura do pecado sabe o quanto é doce nela mergulhar.”
Nós somos um povo sujo, pervertido, e por vezes até demente. Por isso, nós gememos de dor, arrastamos os grilhões da escravidão ao pecado, até o dia em que encontramos a Fonte. Assim, se nós morremos de desgosto em sentir a amargura do pecado ofertado contra o Santo e Bendito Deus, nós acharemos doce e inexprimivelmente refrescante mergulhar nessa Fonte. Mas vamos com calma aqui. Você sente que o pecado é amargo? É verdade que ele nos engana, fazendo parecer um prazer muito grande– mas você consegue perceber que, na realidade, pecar é a coisa mais abominável do mundo? Pense por um momento. Você está dando as costas ao Deus que criou esse planeta exuberante. Você está usando a boca que Ele deu para maldizer a Ele. Você, quando peca, está exalando o fedor da sua miséria odiosa diante do Deus que é amor, que criou o mundo para expressar ainda mais o Seu eterno amor triuno. Você está cuspindo nesse amor. E, se você morrer sem sentir que o pecado é amargo, você estará para sempre separado do amor mais genuíno que existe, e conhecerá só ira.
Entretanto, se você percebe que o pecado é amargo, nojento e horroroso, você quase se desespera. O que pode nos salvar dessa abominação que cometemos contra o Senhor Deus? Estamos em uma situação extremamente condenável. Mas a salvação também é extrema. O Sangue do Senhor Jesus Cristo é a garantia mais intensa possível de que nada nos separará do Seu amor se confiarmos nEle. Deus nos deu Seu Filho como Salvador. Sim, a nossa condição é extremamente abominável, mas o Filho nos redimiu de um modo ainda mais extremo. Podemos ter certeza de que Ele nos salvou pela Fonte do Seu sangue, e assim podemos dizer: “Doce é nela mergulhar!”
Redimidos e Adotados!
Enfim, encerrando também na nota em que o hino encerra, temos a nossa nova vida em Cristo. “E eu que era inimigo declarado fui um dia carregado até ela. Ó milagre, Ó ventura igual não vi! Veste, anel, sandália e festa recebi.” Essa é a história da nossa salvação. Nós éramos inimigos de Deus, mas fomos levados à Fonte. Sentimos o amargor da nossa rebeldia, lamentamos nosso pecado, e nos arrependemos. Então, tivemos diante de nós a redenção: mergulhamos, de corpo inteiro, na poça de sangue de Cristo Jesus. Dissemos: “Cristo, Tu és nossa justiça, confiamos em Ti!” E assim, fomos adotados em amor. O próprio Pai nos ama, o Filho Jesus Cristo breve virá nos buscar, e enquanto isso o Seu próprio Espírito Santo habita em nós e nos guia a viver aqui para a Sua glória. Éramos inimigos aguardando o camburão da morte, mas pela graça de Deus hoje somos filhos amados e podemos falar todos os dias com o nosso Pai, enquanto trabalhamos aqui à espera do encontro com Ele. Que milagre acontece na vida de quem confia em Jesus, e pela fé mergulha nessa Fonte! Que ventura abençoada, de inimigo declarado ser feito filho!
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