Pular para o conteúdo principal

A traição de Monk e a Sinceridade de Deus | Comentário Cultural


 A série Monk, uma das minhas preferidas, acompanha um detetive particular com TOC, perfeccionismo e outras particularidades. Ele é um detetive extraordinário, capaz de resolver qualquer caso. Ou melhor, qualquer caso, exceto um: o assassinato da sua esposa, ocorrido muitos anos antes do que é retratado na série. Ele amava profundamente a esposa, Trudy, e mesmo oito anos depois da sua morte ainda não conseguiu deixar de pensar constantemente sobre ela, lamentando todos os dias a sua morte. Ele vive sozinho, e sua felicidade é relembrar a vida alegre que teve com ela.


 No entanto, em determinado episódio da quarta temporada, Monk recebe uma notícia aterradora: Testemunhas disseram que Trudy está viva, tendo apenas forjado a própria morte para deixar Monk em paz. Ao saber disso, o detetive entra em crise e fica catatônico. Não sabe o que dizer, não sabe o que pensar. A cena é comovente. As únicas palavras que ele diz, completamente atônito, são:


 "Se isso for verdade, então nada é verdade. Se isso for verdade, então nada é verdade!"


 Dá pra sentir, na voz, na expressão e na história, a sua absoluta angústia. Na situação dele, que nunca amou ninguém mais que à Trudy, que nunca confiou em ninguém mais que na Trudy, e que nunca se sentiu amado por ninguém tanto quanto pela Trudy, isso foi arrasador. O que fica nas entrelinhas é "Se for assim, então eu construí toda a minha vida sobre areia— fui traído na única certeza que tive na vida, de que Trudy me amava." Eu acho que a insinceridade é a pior traição. Chorar no ombro de alguém que com a mão quer te roubar a carteira é ruim, e descobrir que seu amor te amava só da boca pra fora é pior. É traição. Toda a sua vida foi uma mentira.


 Não vou dizer como o episódio termina, pois o objetivo na verdade é pausar nessa cena e ver nela uma janela para o coração humano. Isto é, creio que o sofrimento de Monk é um temor enraizado profundamente em todos nós — "e se no final tudo tiver sido uma ilusão? E se eu fui enganado o tempo todo?". No caso do detetive da série esse temor era sobre a sua vida temporal, mas quero que consideremos a vida eterna. Você já teve medo de não ter sido perdoado, de estar enganado, e de no último dia receber o duro golpe da condenação? Você já sentiu um calafrio percorrer a espinha por pensar na possibilidade de no dia do juízo o Cristo a quem você ama dizer "Nunca te conheci"? Se você já considerou isso, você sentiu por alguns momentos o que eu acho que deve ser a pior angústia que um homem pode ter — o medo de ser traído por Deus.

 Mas a Escritura tem um bendito remédio para essa dor, que cura de fato — uma certeza firme que podemos agarrar. É uma promessa sobre Cristo Jesus nosso Salvador, que nunca nos trairá.


 "Pois assim é dito na Escritura: “Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa, e aquele que nela confia jamais será envergonhado”"

1 Pedro 2:6 NVI (itálico meu)


 Aqui vemos que Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, é a "pedra angular", a base concreta, que Deus nos deu. Quem constrói sobre Ele tem uma morada eterna, que nunca será abalada. Mas o que isso tem a ver com nosso assunto? Tudo. Se você colocar toda a Sua confiança na salvação perfeita e suficiente que Jesus fez — se apostar todas as fichas nessa única certeza — você não deve ficar duvidoso nem inseguro. "Não temas". O próprio Deus prometeu, e por meio do profeta e do apóstolo redigiu, que ninguém, nem uma única alma, chegará a Cristo e dirá "eu confiei em Ti, mas me rejeitaste." Nunca! Pelo contrário, quem em Cristo confiar "jamais será envergonhado". 

 Vamos nos demorar ainda um pouco sobre essa promessa. 

 Monk, caso a sua esposa realmente tivesse forjado a própria morte, teria apostado toda a vida numa falsidade. Tudo o que ele fez e sentiu na vida era apenas uma manifestação da sua certeza de que Trudy o amava. Mas se ela não o amava, então nada era verdade – nenhum presente dado, nenhuma lembrança alegre, nenhuma saudade; nada é genuíno se ele estava sendo enganado o tempo todo.

 E o mesmo temor pode se manifestar nos cristãos. Talvez imaginemos o dia do juízo:

 "– Aparte-se de mim!, ordena o Senhor.

 – Mas Senhor, eu confiei em Ti toda a minha vida, Tu morreste por mim e me salvaste, por isso preguei, orei e trabalhei para a Tua glória!, clama o fiel.

 – Você se enganou, eu nunca te conheci, diz o Senhor." 

 Se o juízo fosse assim, toda a vida cristã – todos hinos cantados com coração alegre, todas orações confessando os mais sujos pecados, todo esforço de deixar de lado a timidez e falar sobre o Senhor, tudo – seria vaidade, e nós seríamos os mais miseráveis de todos os homens. 


 Essa seria a cena mais lamentável na história da existência. Mas ela é impossível, nunca acontecerá. Nunca! O Deus de amor sabe amar, e de modo algum trairá a sua confiança nEle.


 Contudo, você pode pensar que Cristo disse, sim, que no grande dia irá rejeitar alguns que o chamam de Senhor, mas leia bem o texto de Mateus: eles apontaram diversas obras realizadas "em Seu nome", mas não se arrependeram de seus pecados e não confiaram na salvação que só Cristo garante por Seu Sangue. Pelo contrário, permaneceram praticantes da iniquidade. Mas não é assim com quem se arrepende, confia e segue Jesus. Quem faz isso é pessoal e intimamente conhecido por Ele. É Sua ovelha, e ninguém pode arrancá-lo da Sua mão. 


 "Quem nela confia jamais será envergonhado."


 Essa promessa de segurança não é estranha, pois a Escritura está cheia de testemunhos dela: Cristo prometeu que confessará diante dos anjos o nome de todos que O confessam aqui. Mais: "Quem perseverar até o fim será salvo". No contexto, o Senhor falava sobre não deixar de confiar nEle e seguí-Lo, nem mesmo diante de reis e ameaças de morte. Perceba que Jesus não diz "quem perseverar até o fim talvez se salve". O que Ele realmente diz é "quem perseverar até o fim será salvo," com toda certeza será salvo. Ele quer exterminar todo tipo de dúvida, para que não haja medo algum em confiar nEle de todo coração e seguí-Lo. 

 Com todas essas promessas, creio que nosso Senhor Jesus é a pessoa mais asseguradora que existe. Nosso Deus é o Deus mais sincero e genuíno, sem segundas intenções e sem ilusão. Como registrado na Escritura, "Deus não é homem para mentir". Voltando ao tema, o amor humano pode falhar e enganar. Trudy teria envergonhado Monk até o mais deprimente desespero, se tivesse traído-o. Mas não tema, Deus jamais faria algo assim, a salvação que Ele nos garante em Cristo não engana. A Sua sinceridade chegou até à morte, e morreu. De fato, nunca envergonhará quem confiar nEle e na Sua graça, pois Ele mesmo prometeu, e a Sua Palavra é a verdade — se a Sua morte é de verdade, então tudo o mais é verdade.

 Parafraseando a famosa frase de John Stott: Se você quiser uma definição de sinceridade não vá ao dicionário, vá ao Calvário.

 

 “Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa, e aquele que nela confia jamais será envergonhado”



Comentários

  1. por um completo acaso eu voltei a assistir Monk e, por um acaso ainda maior, vendo este episódio em questão, a dona ansiedade me fez pausar o episódio e ir procurar algo no google. Encontrei seu texto. Não era bem isso q eu esperava como possíveis respostas, mas confesso q foi mais do q eu precisava. Obrigada.

    ResponderExcluir
  2. Fico muito feliz com o seu comentário. É incrível ver como Deus ainda faz o texto chegar até às pessoas. Que o Senhor te abençoe!

    ResponderExcluir
  3. Eu lembro desse episódio que a Nataly encontra a trudy, mas faz um tempo que assisti...
    Eu amo assistir a série, porém esse morre não morre, essa incerteza se ela morreu não me faz bem (ou eu que não entendi) pq a Nataly encontra a trudy ela diz pra Nataly que o monk não pode saber... e dps parece q ele "esquece" que aconteceu isso e torna a falar que a trudy morreu.
    Depois mais pra frente ele encontra a taxista brasileira, que recebeu as córneas da trudy, mas afinal ela morreu ou não? Devo ter perdido algum episódio que deixaram claro isso...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Douglas!

      Na verdade a mulher que a Natalie encontra não é a Trudy, é só uma mulher muito parecida com ela. Essa impostora estava em um esquema querendo enganar eles. Na realidade a Trudy realmente morreu, sim.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O Infinito, de Giacomo Leopardi | Tradução de Poema

O Infinito        Sempre caro me foi este morro só        E esta cerca, que em tantas partes suas        O último horizonte ver me nega.        Mas sentado e observando, interminados 5     Espaços para lá, sobrehumanos         Silêncios, e profunda quietude        Eu, na mente, formo; onde por bem pouco        Meu coração não assusta. E como logo        Ouço o vento soprar entre estas plantas 10   Aquele infinito silêncio à ouvida        Voz vou comparando: e me vem o eterno,        E as estações mortas, e esta presente        E viva, e o som dela. Assim por entre esta    ...

2 Pontos das 95 Teses | Fé e Sofrimento

2 Pontos das 95 Teses "Seja considerado tolo  Todo aquele que disser  "Paz, Paz!"   Sem que haja paz.  Seja considerado Justo  Todo aquele que disser  "Cruz, Cruz!"  Sem que haja cruz."  ~ Tese 95, João Manô  Essas duas estrofes do hino "Tese 95", de João Manô , são retiradas diretamente das 95 teses de Martinho Lutero. Especificamente, a primeira estrofe citada é a tese 92 e a segunda estrofe é a tese 93. Quando descobri isso achei incrível, pois enriquece muito a música, e por isso pretendo trazer a nossa atenção a essas duas teses e extrair delas o cerne das questões que Lutero tratou ao protestar contra a teologia da Igreja Católica Romana, a saber, a validade das indulgências e o sofrimento cristão.       Tese 92 - Conforto infundado  Vamos começar com a tese 92:      "Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz."¹  Se você tem alguma noção do ...

Amor (III), de George Herbert | Tradução de Poema

 O Amor me deu boas-vindas, mas hesitei   Sujo de pó e pecado  Mas o esperto Amor, vendo que desconfiei  Desde que eu tinha entrado  Com ternura se achegou a mim, me perguntando  Se algo estava faltando  “Um convidado que tivesse merecido.”  O Amor: “Você será.” “Eu, que sou o insensível, o ingrato? Ah querido,  Não posso nem te olhar.”  O Amor pegou minha mão, sorriu, respondeu:  “Quem fez o olho senão eu?”  “Sim, senhor, mas eu o manchei: tal me envergonhou,  O que ganhei terei.”  “E não sabe" — o Amor — “quem a culpa levou?”  “Querido, eu servirei.”  “Deve sentar” — o Amor — “a carne eu já provi.”  Então eu sentei e comi.